FRITZ MÜLLER 200 ANOS
Voltar

Fritz Müller e Santa Catarina: como foi a vida do naturalista no Estado



Alemão que ajudou a comprovar as ideias de Darwin viveu 45 anos no Estado

TOPO

Por Caminhos de Fritz Müller

30/03/2022 10h03  Atualizado há 4 dias

Fritz Müller e Santa Catarina: como foi a vida do naturalista no Estado

Foto: Unsplash

Johann Friedrich Theodor Müller, o Fritz Müller, nasceu em 31 de março de 1822, em Erfurt, na Alemanha, mas não demorou muito tempo para deixar a Europa para trás. Fritz deparou-se insatisfeito com a monarquia alemã e frustrado pelo fracasso da Revolução de 1848, que tentou escancarar o descontentamento popular com a tradicional estrutura autocrática e o clamor do povo por liberdade política e de expressão, democracia e nacionalismo.

> Descubra o legado científico de Fritz Müller

Em 1852, embarcou com a esposa e a filha primogênita naquela que seria a viagem mais longa de sua vida. Os mares os levaram a terras tropicais e os entregaram a São Francisco do Sul. Lá, encontrou apenas a igreja e algumas casas que existem no centro histórico até hoje. Morou no litoral por um mês, mas logo comprou terras na recém fundada colônia de Blumenau com o irmão Hermann Müller.

O enlace entre Blumenau e Fritz Müller

Dois anos antes da chegada de Müller no Brasil, o Governo Provincial cedeu ao químico e farmacêutico Hermann Bruno Otto Blumenau terras de duas léguas para fundar uma colônia agrícola com imigrantes europeus. Dr. Blumenau, como é chamado, conheceu Fritz ainda na Alemanha, enquanto trabalhava no centro farmacêutico de Erfurt.

Dia 2 de setembro daquele ano, 17 colonos chegaram para transformar os planos em realidade. Pouco tempo depois, a região já era um dos maiores empreendimentos colonizadores da América do Sul e um importante centro agrícola e industrial influente na economia brasileira.

> Blumenau tem programação especial para 200 anos de Fritz Müller

Fritz Müller se instalou no Garcia, região sul de Blumenau. O ribeirão até hoje é abundante em cotias, peixes, plantas e pássaros das mais variadas espécies. Seria o ambiente perfeito para o naturalista realizar suas pesquisas, mas os primeiros anos vivendo no Brasil foram dedicados ao trabalho braçal. Ao irmão Hermann, Fritz afirmou que escolheu viver “com o machado e a enxada, na mata virgem, sentindo-se esplendidamente bem”.

Florianópolis abriu caminho ao cientista

Em 1856, Fritz Müller foi indicado por Hermann Blumenau para ser professor no Liceu da província. Para o fundador da colônia, Fritz era uma ameaça por suas ideias revolucionárias e seu ceticismo religioso — era agnóstico, embora tivesse sido criado em um lar protestante. A mudança de residência foi feita a pé.

"O caminho me levava por longos trechos pela praia. Os ricos tesouros animais que encontrei fizeram aflorar em chamas vivas meu antigo desejo pela pesquisa da fauna marinha", escreveu o naturalista alemão.

Fritz Müller viveu em Florianópolis, antiga Desterro, e escreveu seu livro "Für Darwin" — Foto: Unsplash

Fritz Müller viveu em Florianópolis, antiga Desterro, e escreveu seu livro "Für Darwin" — Foto: Unsplash

Na antiga Desterro, Fritz dividia seu tempo entre ensinar os poucos alunos que tinha e a estudar a fundo a fauna e a flora nativa. Após ler um exemplar da obra “A Origem das Espécies”, de Charles Darwin, decidiu realizar um estudo de campo para comprovar as ideias do naturalista e cientista britânico.

> Fritz Müller e Charles Darwin: qual a relação entre eles?

Fritz comparou os mecanismos de respiração de espécies de caranguejos diferentes e percebeu que eles haviam desenvolvido formas únicas de viver fora da água. Além disso, observou que a ideia da seleção natural defendida por Darwin também era verídica após descobrir que camarões e outras espécies de crustáceos passavam pela mesma fase larval, ou seja, possuíam os mesmos antepassados.

As descobertas foram documentadas em seu livro “Für Darwin”, publicado em 1864 e notado por toda a comunidade científica da época, incluindo aquele que inspirou seus estudos. Com a repercussão da obra, Fritz passou de professor para pesquisador do governo com a missão de ajudar a agricultura.

O bom filho à casa torna

Quando foi convidado a lecionar em Desterro, Fritz não ficou muito contente com a ideia. Gostava de viver em meio à mata e de se alimentar do que plantava. Ainda assim, viveu 11 anos por lá. Em 1867, retornou à Blumenau e comprou uma casa às margens do Rio Itajaí-Açu, mas não se limitava a ficar por lá. Explorou, a pé, a Serra, o Planalto, o Norte e o Litoral.

Em Blumenau, cidade que ajudou a erguer, Fritz permaneceu até morrer, em maio de 1897, aos 75 anos. A casa onde viveu hoje abriga o Museu de Ecologia Fritz Müller, responsável por manter intactos a memória e o trabalho do naturalista.

> Conheça a história de Fritz Müller, o naturalista que impactou SC

O Museu reúne cerca de 4 mil itens entre insetos, animais taxidermizados, animais conservados em meio líquido, fósseis, ossos, peles, minerais, e pertences de Fritz e sua família. Ao longo da vida, o pesquisador desenvolveu 264 publicações em periódicos científicos, recebeu dois títulos de doutor honoris causa em universidades alemãs e trocou dezenas de cartas e ficou conhecido, também, como o grande amigo e ajudador do pai da Teoria da Evolução, Darwin, que lhe conferiu a alcunha de “O príncipe dos observadores''.

Para saber mais sobre Fritz Müller, acesse o canal do g1.

Fonte: https://g1.globo.com/sc/santa-catarina/especial-publicitario/caminhos-de-fritz-muller/caminhos-de-fritz-muller/noticia/2022/03/30/fritz-muller-e-santa-catarina-como-foi-a-vida-do-naturalista-no-estado.ghtml